domingo, 2 de setembro de 2012

No meio do nada.

     Era um fim de tarde chuvoso de setembro, sexta-feira, Denis voltava pra sua casa exausto e irritado com o cansativo dia de trabalho. Ele era um medíocre corretor de imóveis, alto, moreno, sempre muito bem arrumado. Naquele dia, Denis estava mais irritado do que o normal das sextas-feiras cansativas, ele havia passado a semana inteira com o mesmo cliente exigente, a família Anderson.
- Eu não sou escravo de ninguém! - Esbravejou - O banheiro é pequeno demais, a cozinha é grande demais, a sala é alta demais. EU JÁ CANSEI!- Gritou sozinho no carro. 
Denis estava saindo da cidade, pois morava na região metropolitana de New Jersey, porém tinha que pegar um engarrafamento até a rodovia onde poderia seguir livremente, isso o irritava mais ainda. Depois de horas e horas sentado no carro, sem sair da primeira marcha praticamente, Denis consegue se livrar daquele inferno. Entrando na rodovia, viu que tinha se enganado, lembrou que segunda-feira seria feriado, e havia engarrafamento por causa disso. Denis se jogou para trás no banco afrouxando a gravata. Minutos se passaram quando ele percebeu que havia um atalho por ali, tinha uma entrada para uma fazenda do seu lado direito. Mudando de pista, conseguiu entrar no acostamento, e logo se direcionou para a entrada da fazenda. A fazenda tinha uma porteira de madeira, aparentemente apodrecida, pois já havia limo nelas.
Denis sem pensar duas vezes, saiu do carro deixando-o ligado com as luzes acesas, Chovia muito, pegou seu paletó e colocou sobre a cabeça para evitar um pouco a chuva. Conseguiu arrastar a porteira o bastante para o carro passar. Havia uma ponte de madeira, era parecia ser bem antiga pelo estado da madeira, assim como a porteira de entrada, corria um pequeno riacho por baixo, a água era nitidamente cristalina. Denis correu de volta para o seu carro, a lama que formava uma pequena trilha até a ponte, sujara suas calças.  Entrou no carro aliviado, chacoalhando a cabeça encharcada pela chuva. Denis seguiu pela ponte. Já escurecia, e ele estava andando há 20 minutos quando conseguiu admitir pra si mesmo que estava perdido, NO MEIO DO NADA!
 Passando por uma rua de areia, nesse caso havia muita lama pois estava chovendo, Denis notou a presença de uma casa de madeira antiga, caindo aos pedaços e decidiu parar pra pedir informações. Estacionou o carro na frente do casebre e foi entrando no pátio, pois o portão era de madeira pequeno. Ao se aproximar da janela ele ouviu gritos, ao que pareciam ser de uma mulher, agachado Denis foi se aproximando pra ver o que estava acontecendo, quando viu nitidamente a imagem de um homem que vestia roupas aparentemente de meados de 1800.
Este homem vestia um casaco de couro preto, muito sujo, dava pra notar, ele era alto e ruivo, tinha uma barba por fazer ruiva também, usava botas campeiras antigas e portava uma foice, a qual estava no pescoço da mulher.
- Não, por favor, eu suplico, não me mate ! - Pediu a mulher desesperada - Eu não fiz nada Bill, eu juro, não tem mais ninguém aqui. O tal "Bill" deu uma risadinha e decepou a mulher friamente, seu sangue jorrava em sua camisola branca, o pescoço havia sido cortado profundamente, e Denis conseguia ver o tamanho do corte entre o sangue, pensou que se ela sobrevivesse, iria ter de levar milhares de pontos pois era um grande rasgo em sua pele. Denis não pensou duas vezes e saiu correndo, pulando o portão, simplesmente se jogou para dentro do carro, nervoso, começou a apalpar seus bolsos a procura da chave, ao tocar no volante, lembrou que havia esquecido a mesma na ignição, ligou o carro e arrancou. Denis andou mais um pouco e parou num acostamento improvisado, já era noite, e chovia demais. Ao se recostar um pouco no banco do carro, ele pegou seu celular e tentou chamar a polícia, mas a tentativa foi em vão, pois o celular estava totalmente sem sinal.
-Meu deus, o que eu vou fazer agora? - Se perguntou Denis, suando frio, naquele carro.
  Denis andou mais um pouco e achou outra casa, estacionou na frente dessa nova casa e saiu do carro. Bateu na porta, e um jovem rapaz foi atende-lo.
-Olá, posso ajudar o senhor? - Disse o rapaz olhando para as roupas sujas de lama e molhadas de Denis.
-Eu preciso de um telefone, eu preciso ligar para a polícia, eu presenciei um assassinato a sangue frio!!!! - Gritou ele adentrando a casa do rapaz.
-Bom, acalme-se. Primeiro de tudo, ninguém nessa região consegue ter telefone, pois aqui não passa linha, e a rede do celular é limitadíssima. Segundo, onde foi que aconteceu esse homicídio? foi longe daqui? isso é grave demais. 
-Como assim não tem linha telefônica? Não foi muito longe, apenas alguns minutos de carro para trás, o homem simplesmente decepou a mulher, e eles se vestiam de uma forma estranha, como se fosse antigamente, sei lá uns 1800 por aí. - disse Denis
-Meu Deus. - Falou o homem espantado.
-Ué, porque o espanto? Falei algo errado? - Disse Denis intrigado
-Não, apenas é estranho, forasteiros sempre vem aqui dizendo sobre esse casal, porém só o que há lá atrás é uma casa abandonada.
- O homem se chamava Bill - Falou Denis - Você viu ninguém na região que tivesse esse nome? 
-Não, essa região é muito antiga e é muito difícil eu não saber quem é, pois moro aqui desde pequeno.  -Disse o homem.
- Será que eu posso entrar e beber um copo d'água? Eu não estou ficando louco, sei o que eu vi!  -Falou ele.
-Claro, por favor.
Entrando dentro da casa do rapaz, Denis percebeu que ele era um jovem agricultor da região.
- Então, o que você faz? E qual o seu nome mesmo? Estamos conversando e nem lhe perguntei - Falou Denis, na intenção de começar uma conversa mais calma.
-Prazer, me chamo Josh, trabalho na terra, sou agricultor - Disse o homem, enchendo a chaleira para fazer um café a ele.
-Você praticamente mora no meio do nada, não tem nada aqui perto, padarias, supermercados, postos de gasolina.
-Você não sabe o que está falando - Disse Josh mudando a entonação de sua voz.
- Desculpe? - Falou Denis assustado.
-Nada amigo, pegue a xícara. - Falou Josh, servindo o café a Denis.
Ainda chovia muito lá fora, e Denis decidira antes de mais nada, esperar a chuva passar para fazer qualquer coisa.
-Onde fica o banheiro Josh? 
-No final do corredor a direita - Disse Josh com sua xícara de café quente nas mãos, ambos morriam de frio.
Denis estava quase chegando ao banheiro, quando viu a porta de um quarto escuro entreaberta, e decidiu entrar, sem pensar, apenas por curiosidade.
-Olá? - Disse Denis, sem esperança que tivesse mesmo alguém naquele escuro e sombrio lugar, quando em meio à luz do poste da rua que refletia através da janela, viu uma cadeira de rodas, com uma pessoa sentada, virada para a janela, como se estivesse olhando a rua. Denis levou o maior susto, mas conseguiu se controlar. Respirou fundo, e decidiu virar a cadeira para ver quem estava ali. Enxergou um velho homem que aparentava estar muito doente.
-Bill? - Disse o homem com uma voz praticamente indecifrável
-Não, me chamo Denis.
-Bill, foi ele.
- Você conhece esse Bill? Eu assisti ele matar uma moça indefesa a pouco tempo - Disse Denis horrorizado. O velho homem soltou uma gargalhada baixa e debochada.
-Porque está rindo? - Retrucou Denis sem entender.
-Você disse "a pouco tempo", meu rapaz, isso aconteceu a cerca de 200 anos - Finalizou o velho homem dando a sua gargalhada sarcástica.
-O que você está fazendo aqui? - Disse Josh entrando repentinamente no quarto escuro.
-Eu estava conversando com este... - Falou Denis que ao se virar, percebeu que o velho homem havia sumido - Josh, vai parecer loucura, mas havia um homem aqui agora mesmo, sentado nessa cadeira de rodas.
-Não há mais ninguém nessa casa, eu moro aqui sozinho, comprei essa casa a pouco tempo e o antigo morador deixou alguns pertences aqui. - Disse Josh sério.
Denis seguiu até o banheiro, intrigado com a situação, por incrível que pareça não estava com medo, e sim com vontade de sair logo daquele lugar. Entrou no banheiro, trancou a porta e se encostando nela, relaxou a cabeça e pensou.
-Meu Deus, como eu não percebi antes? Josh... - Denis lembrara que Josh havia lhe dito que morou aqui desde criança, como seria capaz alguém deixar seus pertences aqui, se quem morou aqui foi ele mesmo com a sua família?
Denis saiu do banheiro a procura de Josh, que não estava na cozinha, então ele saiu a sua procura e o encontrou mexendo em uma caixa de ferramentas enferrujada na garagem.
- O que você está fazendo? Porque você mora sozinho, onde está a sua família? Eu quero respostas Josh, porque você mentiu que havia se mudado a pouco tempo? -Disse Denis
-Pegue! - Falou Josh atirando-lhe uma chave inglesa.
- O que você espera que eu faça com isso Josh? Você tem que me falar o que está acontecendo se quer que eu o ajude!
-Eu pensei que havia acabado, estava tudo tão tranquilo - Falou Josh encostando-se em uma velha caminhonete que havia naquela garagem. - Isso não acontecia a muito tempo.
- O que? - Falou Denis
- Há 200 anos, havia um homem, dono dessas terras, ele estava desesperado pois elas não davam frutos há meses, e sua família estava estava passando fome, sua mulher trabalhava cuidando de crianças em outras terras. Bill desesperado não viu outra solução a não ser fazer um pacto com o demônio,foi até um encruzilhada e conjurou o próprio enterrando uma caixinha com umas ervas, terra de cemitério e uma foto sua,ao se levantar do chão após ter enterrado, uma bela mulher lhe aparece e pergunta qual era o seu desejo, ele o falou e o demônio aceitou em troca de sua alma, selou o pacto e lhe deu um beijo na boca. Em menos de duas semanas essas terras começaram a dar frutos como nunca deram antes e ele conseguiu construir a maior casa da região, colocou empregados a trabalhar para ele nas terras, e mandou sua mulher parar de trabalhar, ela aceitou imediatamente. Porém Bill estava preocupado com o seu futuro de eterno sofrimento após a morte, e retornou até a encruzilhada conjurando o demônio novamente, o mesmo apareceu em forma de mulher como antes, porém Bill tinha lhe feito uma armadilha , desenhou um pentagrama religioso e prendeu o demônio lá dentro colocando em volta do desenho pequenos punhados de sal, com um livro de exorcismo Bill ameaçou mandar o demônio de volta para o inferno se não lhe garantisse que sua alma estaria a salvo depois que morresse, o demônio aceitou e Bill o libertou. Dizem que o demônio ficou furioso com a atitude ameaçadora de Bill. Um certo dia ele fora até o centro de sua cidade conversar com o banco, e acabou voltando mais cedo. Ao chegar em casa sua mulher estava na cama com um de seus empregados, sem pensar duas vezes, Bill encheu o homem de facadas na barriga,quanto à mulher, ele amarrou ela em uma cadeira e lhe decepou. Logo depois que fez isso, ele sentiu uma enorme culpa e caiu em depressão, 1 hora depois de ter cometido o suicídio ele atirou na própria cabeça. Quando chegou na porta do inferno, o demônio não pôde aceitar a sua alma, devido ao pacto embora quisesse, e mandou Bill vagar por essas terras e ficar preso na noite dos assassinatos. Toda noite na mesma hora das mortes, Bill faz tudo de novo, há 200 anos. As pessoas que moraram lá depois dele morreram todas, inclusive um velho homem, que após pesquisar tudo isso, morreu com uma doença degenerativa em uma cadeira de rodas. 
- Nossa - Disse Denis sem saber mais o que falar - Esse velho homem, eu o vi naquele quarto.
-Sim, ele se manifesta para forasteiros, os arrastando para a casa para morrerem da mesma forma que morreu.
-Mas, qual a solução para toda essa história então Josh? E qual a relação da sua família com isso? - Disse Denis, ainda duvidando da história.
-Minha família morou naquela casa, comprou todas essas terras, e um dia meu pai chegou em casa bêbado e matou minha mãe e meus dois irmãos, quando eu cheguei em casa vi a polícia tomar conta do local, então construí essa casa e moro aqui desde então, a única forma de acabar com essa história é queimar os ossos de Bill e sua esposa com sal, em solo sagrado.
-Como vamos fazer isso? Onde fica o túmulo de Bill? - Disse Denis pegando uma pá para escavar.
-O túmulo de Bill está no velho cemitério da cidade, vamos pega-lo e leva-lo até a igreja e finalmente queimar os dois corpos.
Josh e Bill colocaram as ferramentas na caminhonete, que por um milagre ainda funcionava.
     Foram até o cemitério local, e encontraram o túmulo de Bill e sua esposa, escavaram e juntaram os ossos, colocaram na caminhonete e seguiram para a igreja. Chegando lá perceberam que algo os rodeava, ao colocarem os ossos no chão,pois estavam em duas sacolas, para fazer a fogueira, uma bela mulher entra na igreja, olha para os dois e diz: Vocês não vão querer fazer isso não é meninos? Denis arregalou os  olhos e jogou os dois sacos de ossos em cima dos gravetos que formavam a fogueira, jogou sal e fluído de esqueiro e acendeu um fósforo.
- Com certeza queremos - Disse Denis olhando para o demônio com uma risada e jogando o fósforo na fogueira.
Os corpos queimavam no fogo e finalmente Bill e sua mulher iriam descansar em paz, ao se virar, percebeu que Josh não estava mais lá. Denis tentou chama-lo algumas vezes mas foi em vão, era como se tivesse feito tudo sozinho, os corpos, o carro, a igreja, até o café. NENHUM VESTÍGIO DE JOSH.
Denis esperou os ossos queimarem bem e apagou a fogueira colocando as cinzas de volta nos sacos e seguiu de volta para o cemitério. Chegando lá, jogou as cinzas em suas respectivas covas e fechou elas com a terra.
Quando estava indo embora, Denis percebeu uma cova aparentemente "nova" com o nome: Josh Zimmerman. Denis agradeceu a ele a ajuda e foi embora da terrível cidade fantasma. Ele aprendeu uma lição para a vida toda.




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