Me chamo Lucas, e o relato que vou contar a vocês aconteceu
entre a madrugada e manhã do dia 21 de fevereiro de 2002. Era inicio de ano
letivo e estava entrando na 7ª série do colegial. Lembro muito bem da data,
pois era o dia do meu aniversário e queria comemora-lo em grande estilo. Só
que nunca imaginei que as coisas fossem sair completamente do controle.
Sempre fui muito popular na escola, tinha muitos amigos e todos queriam
andar comigo, estava longe de ser o melhor aluno da classe, mas tirava notas
suficientemente boas para não reprovar, fazia questão de me dar bem com
todos os funcionários do colégio, talvez como uma maneira de manipula-los e
evitar punições severas a deslizes que cometia as vezes, como “matar” aula
por exemplo.
No começo “matava” aulas por pura preguiça, mentia para meus pais que não
estava me sentindo bem e ficava em casa dormindo até tarde. Depois de um
tempo percebi que faltar aula poderia ser bastante divertido, principalmente
depois que conheci Tatiana. Tatiana era de origem Argentina e tinha se mudado
para o Brasil ainda pequena. A verdade é que tínhamos uma química tão
forte que ela se tornou minha melhor amiga da noite pro dia. Minha mãe a
detestava, a olhava como se tivesse olhando para uma barata. O fato dela ter
reprovado o último ano do colegial várias vezes, a falta de comprometimento
com os estudos e o modo como se vestia também ajudou no julgamento.
Por sorte ou azar, começamos a estudar na mesma instituição e mal sabia
que aquilo iria significar a minha total ruína. Através dela conheci novas
pessoas e comecei a entrar em seu universo paralelo, universo por assim dizer,
sobrenatural. Tatiana era viciada em histórias de horror, carnificina, tinha fascínio
pela morte em suas mais variadas formas e principalmente por suicídios.
O meu aniversário se aproximava e queria comemorar meus 14 anos de uma
forma completamente diferente, inusitada, e minha doce Tatiana surgiu com a
ideia de irmos de madrugada para o cemitério “brincar” de evocar espíritos.
- Meu querido Lucas , meu amor, esse ano iremos festejar seu aniversário
na companhia de umas 5 mil pessoas. Disse Tatiana.
- Eu sei que sou popular, todo mundo gosta de mim, mas convidar todo o
colégio para minha festa é demais, quero algo bem simples e intimista.
- Deixa de ser retardado, vamos comemorar seu aniversário naquele cemitério
perto da casa do Mateus, aquele antigo, construído por escravos, e cheio de relatos
sobrenaturais.
- Nem pensar, nem pensar, nem pensar. Dizia eu, rindo e achando que se
tratava de uma de suas maluquices.
- Estava pensando em reunir sete pessoas, tomar umas cervejas e depois
brincar de evocar espíritos com a Tábua Ouija que ganhei do meu irmão, ela
está novinha e precisa ser batizada. Mas antes de dizer qualquer coisa lembre-
se que apenas sete pessoas podem participar da reunião. E aí, topas?
- Claro que não, endoidou de vez? Agora sai da minha frente que preciso entrar
na sala, afinal de contas alguém precisa estudar por aqui né?
A principio relutei, chegamos a brigar, ficamos dias sem nos falar e quando
faltava pouco mais de dois dias para o meu aniversário a procurei, fizemos
as pazes e começos a organizar a lista de convidados. Mas uma coisa ficou
martelando diversas vezes na minha cabeça... ‘Por que sete pessoas?’
O grande dia chegou, Tatiana bateu na porta da minha casa exatamente às 01h
da manhã e disse para irmos correndo ao cemitério, pois antes das 03h30 o espírito já tinha que estar entre nós. Como sempre muito esperta, Tatiana não
fez de rogada ao se relacionar intimamente com o segurança do cemitério,
por puro interesse claro, e assim conseguimos entrar no local da “festa” sem
dificuldade alguma.
Estávamos em sete; Tatiana, Mateus, Nicole, Nicolas, Aline, Gustavo e eu.
Apertávamos-nos em cima de uma grande tumba de mármore onde jazia uma
família inteira. Mãe, pai e filho. A tumba era bastante conhecida e
visitada por
se tratar de uma família que foi encontrada morta em 1995. Os corpos
foram encontrados dentro do porta-malas de um veiculo. O crime nunca foi
desvendado.
No começo da “comemoração” bebemos cerveja, vodka, ouvimos música, e
Tatiana parecia estar mais interessada em ficar com o “namorado” na guarita do
cemitério do que se divertir conosco. Quando o relógio marcou exatamente
03h da manhã, ela foi a nosso encontro e gritou bem alto dizendo que
precisávamos nos preparar que o show iria começar. Eu era o único sóbrio, já
estava arrependido e temia o que poderia acontecer, mas continuei, apesar de
estar preocupado.
Tatiana pegou um pincel preto e marcou nossas blusas com um número, ela era
o 7.
- Agora vamos nos divertir de verdade! Esbravejava com aspecto de quem
tinha surtado.
- Muito bem, agora vou explicar um pouco da brincadeira e vocês irão decidir
que rumo tudo isso irá tomar. Certo?
Estava em completo estado de choque, enquanto meus amigos riam e se
divertiam, provavelmente por estarem alcoolizados e drogados, eu não
conseguia esboçar reação nenhuma, estava paralisado, assistindo tudo aquilo
e sentindo que alguma coisa muito ruim iria acontecer.
Tatiana começou a explicar as “regras” jogo:
“Para evocar espíritos do bem devemos rezar 10 Aves Marias e 20 Pais
Nossos. Para evocar espíritos do mal devemos rezar 10 Aves Marias, 20
Pais Nossos e dizer sete vezes “Ao mal entrego minha alma”, e para evocar
espíritos não humanos, aquelas almas que nunca estiveram em terra na
forma humana, é necessário sacrificar um ser humano que você já tenha tido
relações sexuais. (Adoro essa parte)” Explicou com um ar demoníaco.
Poucos segundos após a macabra explicação de como funcionava o jogo,
o segurança do cemitério começou a correr desesperadamente em nossa
direção, estava completamente ensanguentado e com um profundo corte na
cabeça.
De repente, o pobre diabo caiu no chão e começou a repetir sete vezes “Ao
mal entrego a minha alma”. Depois de repetir a frase ele não disse mais nada.
Ficou parado por um tempo e depois se levantou completamente desnorteado
sem saber o que tinha acontecido.
- O que está acontecendo? O que estou fazendo aqui deitado nesse chão?
Que dor horrível é essa que estou sentindo na cabeça?
Talita se aproximou do “companheiro” e disse baixinho no pé do seu ouvido:
- Ao mal eu entrego a sua alma. E cortou sua garganta com um punhal.
Definitivamente não podia acreditar no que os meus olhos estavam traduzindo.
Todos os meus amigos saíram correndo em direção à saída do cemitério
temendo que algo acontecesse com suas vidas. Porém, fiquei, criei coragem
suficiente para não fugir e enfrentei Tatiana:
- TATIANA, O QUE ESTÁ ACONTECENDO? O QUE VOCÊ FEZ COM
ESSE POBRE RAPAZ? TATI, PELO AMOR DE DEUS, O QUE ESTÁ
ACONTECENDO COM VOCÊ? QUEM É VOCÊ?
Enquanto colocava Tatiana na parede ela simplesmente chorava, me abraçou
forte e disse que não sabia o que estava acontecendo e que quem estava no
seu corpo era outra pessoa.
Entre lágrimas e desespero, Tatiana começou a falar de forma engraçada, a voz
ficou grave, rouca, era como se outra pessoa estivesse falando em seu lugar.
- Tatiana Bracamontes já não habita esse corpo há mais de 10 anos seu
idiota, aquela garotinha ridícula que só sabia fazer xixi na cama e comer feito
uma porca está sendo estuprada no inferno nesse momento. Eu comi cada
pedacinho daquela alma deliciosa!
Depois de presenciar a pior cena da minha vida, perdi a consciência. Foi a
última coisa que vi e ouvi naquela madrugada. Acordei na manhã seguinte
na cama de um Hospital Psiquiátrico acusado de ter matado o segurança do
cemitério com uma punhalada no pescoço.
Com a ajuda das pessoas que estava no cemitério, fui condenado a prisão
perpetua por homicídio triplamente qualificado. Também fui condenado por
assassinar meus pais horas antes de sair para o cemitério.
Por algum motivo que desconheço, meus melhores amigos disseram para os
policiais que eu tinha sido responsável por todas as mortes. Eles nunca
tocaram no nome de Tatiana. Nunca tocaram no nome de Tatiana porque Tatiana nunca existiu.
Ano passado recebi a noticia que eles morreram carbonizados em um
acidente de carro e levaram para o túmulo o verdadeiro relato de tudo
que tinha acontecido naquela madrugada.
10 anos se passaram. Estou no corredor da morte esperando a data da
minha execução ser agendada pela Justiça. Todos os dias antes de dormir,
consigo ouvir a voz da minha querida Tatiana me chamando para conhecer o
Inferno.
quinta-feira, 12 de dezembro de 2013
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2 comentários:
Nossa, esse conto foi mesmo de assustar. Principalmente o desenrolar para chegar no final, não esperava por isso. Senti pena do Lucas, e imaginei o demônio falando no corpo da Tatiana direitinho. :0
terradefagulhas.blogspot.com
Não há prisão perpétua e nem pena de morte no Brasil. Mas o conto é bem bizarro!
Com certeza é ficção ( devido aos fatos jurídicos acima). Se fosse real, poderia ser apenas um caso de esquizofrenia.
Mas se for um relato sobrenatural, é bastante sinistro. Mesmo assim não acredito que uma criança inocente possa ser levada para o "estado de espírito" chamado de inferno!
Porque há um Deus de Amor e Bondade Supremos, O Altíssimo Deus, que jamais permitiria que o mal arrebatasse o espírtio de um inocente para o "baixo plano".
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